O
futebol brasileiro está em um processo de transição. É a capitalização dos
clubes e uma tentativa de elevação de patamar, por parte dos dirigentes de
clubes.
Ontem,
tivemos uma lavada do Barcelona em cima do Santos. É fácil reconhecer que essa
goleada é fruto de um processo bem trabalhado durante anos. Vou ressaltar
apenas uma coisa, que vai ser importante para o restante do texto: o Barcelona ganhou três títulos
nacionais entre 1960 e 1985, apenas três.
Existe uma
palavra que define melhor esse sucesso catalão: Filosofia. A filosofia do
Barcelona é uma filosofia que parece simples, mas envolve muita variáveis. É um
ideal em que todos os jogadores se gostam e se respeitam, se cobram duramente,
mas isso não afeta a moral dos atletas. É um profissionalismo elevado ao
extremo.
Para tudo
isso acontecer, é preciso que todos os profissionais do clube sejam adeptos a
essa filosofia. No Barcelona, isso acontece. Isso envolve, principalmente, os
profissionais da base.
Muitos
jogadores do time titular do Barça são revelados na base do próprio clube. São
jogadores que se comprometem em passar muito tempo da carreira dentro daquela
instituição. E isso acontece, porque o trabalho da base é voltado para o
objetivo do Barcelona, o objetivo de vencer. Dessa forma, os jogadores
revelados por lá, talvez não sejam os melhores tecnicamente do mundo ( aqueles
que, conseqüentemente, dariam mais lucro ao time ), mas são aqueles que se
encaixam melhor à filosofia do clube. São craques dentro do elenco, formam o
elenco vencedor.
Esta parte,
talvez seja a mais difícil de um profissional dentro do clube. O profissional
do Barcelona precisa dizer ao jogador que ele não será o melhor do time, mas
que ele será vencedor. Porque, no fundo, o futebol é um esporte coletivo, e os
jogadores devem almejar a vitória antes dos objetivos pessoais. E é isso que
falta ao futebol brasileiro, hoje.
Faltam
dirigentes que apresentem um plano de carreira para o jogador. Faltam jogadores
que vejam com mais brilho nos olhos, a oportunidade de levantar uma taça da
Libertadores, do que comprar um carro de luxo...
O Barcelona
passou um bom tempo sem ganhar títulos e lançou um projeto revolucionário, que
não traria resultados imediatos. É um projeto que demora, mas que os resultados
são duradouros, como observamos por aqui. Quando o time reserva do Barcelona
entra em campo, mesmo cheio de garotos, o estilo de jogo se repete. É um estilo
que os jogadores gostam de praticar. E os atletas jovens sabem que, ao aderirem
à filosofia catalã, eles reduziram as chances de serem estrelas de um time. Mas
eles sabem que serão vitoriosos. Vão vencer títulos. Pena que nem todos os
jogadores pensam assim...
O Barcelona
conseguiu executar seu projeto e obteve um sucesso absurdo. É o time mais
dominante do mundo. E será o mais dominante por algum tempo. É um exemplo a ser
seguido.
Alguns
outros times tentam iniciar um plano parecido. Irei pegar o exemplo do
Corinthians.
O
Corinthians foi rebaixado e atingiu a pior etapa de sua história. Precisava
contornar a situação. Mas, mais importante, precisava fazer algo maior, que
garantisse que aquilo não iria se repetir.
O Timão
entendeu que era necessário arrecadar capital. Vendeu jogadores, diminuiu orçamentos
e apostou fortemente no marketing, com a presença de Ronaldo.
Hoje, o
Corinthians têm o quarto maior patrocínio do mundo.
Com essa
grana arrecadada, o Corinthians está construindo seu estádio e montou o CT mais
moderno da América Latina. E, por mais que alguns duvidem, isso gera títulos,
afinal, é apenas parte de um projeto de longo prazo.
Um projeto
de CT para a base já está sendo feito e, além disso, o Corinthians está
tentando empregar uma filosofia vencedora. Contratou Narciso, treinador que
revelou, entre outros, Neymar e Ganso ao futebol brasileiro.
É o
Corinthians arrecadando e investindo forte em áreas que prometem dar muitos
bons resultados no futuro.
Outro ponto
que precisa mudar no futebol brasileiro é o planejamento. Hoje em dia, os
clubes fazem planejamentos anuais, com apenas alguns projetos a longo prazo. Os
planejamentos precisam ser mais extensos, mesmo que isso implique em derrotas
durante o amadurecimento do projeto. Cabe às diretorias agüentarem a pressão e
tentarem conscientizar seus torcedores que, no futuro, isso trará resultados. É
o que Andrés Sanchez fez em 2011.
Apenas para
concluir, utilizarei um exemplo prático de como os clubes brasileiros fazem mal
uso do dinheiro.
O São Paulo
fez, hoje, uma oferta absurda para contar com o apoiador Montillo. Cerca de 24
milhões de reais, mais alguns jogadores, entre eles, o atacante Henrique,
melhor jogador do mundial Sub-20 realizado este ano. Estimando um valor de 15
milhões de reais por Henrique, que tem mercado na Europa, o tricolor está
investindo cerca de 40 milhões em um jogador de 29 anos.
O talento
de Montillo é inquestionável. Se o Cruzeiro aceitar a oferta, pode ser que o
argentino traga resultados imediatos, como o título da Copa do Brasil. Mas vale
lembrar que, de repente, esses 40 milhões poderiam ser investidos na melhoria do
bom CT são paulino. Com isso, o tricolor aumentaria sua vantagem em relação a clubes
que possuem CTs desastrosos. Mas a diretoria preferiu ficar no conservador, sem
pensar muito longe...
Como eu
disse no começo do texto, o Barcelona ficou cerca de 20 anos vencendo raros títulos.
Mas hoje, possui um dos melhores times, uma das melhores estruturas, da história
do futebol. Parabéns ao Barça por pensar grande, como todos clubes deveriam
pensar.